Salut, mes amis!
Este é o prosseguimento ao relato da minha viagem à Borgonha, afinal foram tantas
emoções que a extensão dos posts e o
tempo para escrevê-los me forçam a dividi-los e para quem não viu a primeira
parte do meu "Dia DOC" segue o link: http://www.conservadonovinho.blogspot.com.br/2012/04/beaune-dia-2-parte-1.html
Almoçamos no “Au Caveau Nuiton”, um
restaurantezinho familiar em Nuits-St. Georges, construído numa antiga cave escavada na rocha calcária tão
presente na região. Como chegamos um pouco atrasados – já era por volta das
13h30 – quase que o chef não quis nos
atender, mas depois da insistência, eles acabaram nos servindo, com a condição
que escolhêssemos os pratos que estavam disponíveis. Enfim, comemos o
tradicional jambon persilé, coq au vin e créme brulée de sobremesa, acompanhados por um Vosne Romanée ’07 de
Dominique Mugneret, talvez o vinho mais encorpado que eu tinha tomado na
Borgonha até então, tânico e terroso.
Saindo do restaurante, no centreville de Nuits-St. Georges observei umas obras de rua, onde
pude notar a cor amarelada, quase esbranquiçada do solo. A Carolina Licati (a
guia, dona da Vidaboa Viagens, que nos acompanhava), me explicou que é normal
encontrar-se nestes solos calcários fósseis de conchas marinhas, o que comprova
uma longínqua origem marinha dos solos de algumas regiões, o que transfere o
caráter mineral aos vinhos produzidos nestes locais. Também passamos em frente à
sede de Faiveley, um dos maiores e mais bem reputados négociants da Borgonha; que como todos os bourguignons, primam pela
parcimônia e não dão muita bola para as aparências...
Saindo de Nuits-St. Georges fomos dar um passeio
pelas Hautes-Côtes. Primeiramente fomos a uma lojinha de cassis no hameau (um pequeno vilarejo) de
Concoeur. O pessoal estava preparando as geleias ali na hora, em grandes tachos
de cobre, e o aroma de "frutas vermelhas compotadas" de que a gente
tanto fala tomava conta do ambiente. Degustamos geleias, mostardas e licores,
deliciosos, e trouxemos algumas garrafinhas de licor de cassis, afinal "aprendemos"
a tomar o kir - na Borgonha preparado
com aligoté e cassis - durante esta viagem.
A lojinha de cassis "Fruitrouge" |
Continuamos nossa viagem pelo alto da encosta, e embora
o dia estivesse ensolarado, por aqui já se nota uma diferença climática em
relação aos vinhedos mais abaixo, ao longo da "Route des Grand Crus".
A topografia, a altitude e a maior presença de bosques torna o clima mais frio
e úmido, às vezes até com névoa. Tanto que as plantações de frutas pretas e
vermelhas toma lugar das videiras em grandes áreas, e não são poucos os
vinhedos "malcuidados" nesta região.
Rumo ao sul, atravessamos Beaune e, à altura de
Pommard, voltamos a subir a encosta, passando por Saint-Romain Visitamos uma tonellerie (tanoaria) a maior
exportadora dos fûts de chêne da
França. Pude observar o processo de armazenagem do carvalho, cujas tábuas ficam
em torno de cinco anos empilhadas ao relento para amaciar o tanino da madeira,
a montagem dos barris e a sua tostagem.
Des tanneurs au travail |
Barris a serem queimados |
Expedição |
Em seguida passamos por Rochepot, de onde tirei uma
bela foto do Château de la Rochepot e chegamos às falésias de Baubigny, uma
interessante formação geológica de onde se observa Saint-Aubin e Mersault, lá
embaixo.
Château de la Rochepot
Falaise de Baubigny |
Saint-Aubin e - creio eu - Mersault ao fundo |
Paramos então no Domaine Michel Picard, em
Chassagne-Montrachet. Cabe lembrar que as comunas de Chassagne e Puligny
se "apropriaram" do nome de seu vinhedo mais famoso, já que ele fica
na divisa... A visita ao domaine e a
pequena degustação que se seguiu foi bem instrutiva, pois a atendente que nos
acompanhou era bem atenciosa, o pessoal ali está mesmo muito bem preparado para
receber visitantes.
Sala de degustação do domaine Michel Picard |
Os dois únicos barris de Puligny-Montrachet produzidos pelo domaine - aproximadamente 600 garrafas de vinho ao ano |
Vinhedos ao longo da Route de Santenay |
Vinhedos de chardonnay dentro do château |
Tanques de fermentação em inox |
Visita ao chai da vinícola |
Saindo do Domaine Michel Picard passamos rapidamente
pelos famosos vinhedos de Montrachet - talvez o vinhedo mais cobiçado e mais
compartilhado da Côte d'Or - e Bâtard-Montrachet. Os vinhedos Grand Cru se
situam na face leste da colina, com uma inclinação média de 10%, que se acentua
próximo do topo, no vinhedo chamado Chevalier-Montrachet. Alguns produtores
possuem poucas vinhas nestes Grands Crus, e produzem apenas um ou dois barris
por ano, e dessa raridade resulta o preço elevadíssimo. Passamos também por
Mersault (terra de brancos “generosos”, que teimosamente não possui vinhedo
classificado como Grand Cru – seus produtores se consideram acima de qualquer
classificação), Volnay, Pommard e seguimos pela Route des Grand Crus, passando
novamente por Beaune. Concluindo este "Dia DOC" em companhia da Carol
(da qual segue o lik do site e um vídeo abaixo, produzido pelo pessoal da École
des Vins de Bourgogne), fizemos uma visita ao domaine de sua família, o Parigot, em Savigny-lès-Beaune.
Lá pudemos conferir os ótimos crémants que eles produzem pelo método tradicional, com a segunda
fermentação na garrafa. A AOC bourguginonne
é muito mais rígida que a de Champagne, que permite inclusive mistura de vinhos
para obtenção de champagne rosé. Na
Borgonha utilizam-se pinot noir, chardonnay e, às vezes, aligoté, para contribuir
com sua acidez que dá mais frescor ao espumante. Como chegamos ao final do dia,
o pessoal já estava encerrando os trabalhos, lavando os utensílios para o dia
seguinte – a higiene é fundamental na vinícola. A última remessa de uvas já
havia sido prensada e os últimos sumos dos bagos de pinot noir ainda escorriam
da prensa, exalando o perfume maravilhoso. Transferido aos tanques, o suco já
começaria a fermentar e se tornar o vinho tranquilo a ser engarrafado com levedura
e açúcar para a segunda fermentação; aqui, o vinho tinto é maturado pouco tenpo
sob o chapéu do mosto, para adquirir apenas a tonalidade pretendida para a
obtenção do rosé, ou então é
imediatamente separado das cascas, quando for misturado com vinho branco de
chardonnay ou aligoté ou para a obtenção de um blanc de noirs, mais incomum. Descemos ao chai onde a Carol nos demonstrou a manipulação das garrafas nos pupitres, a retirada dos resíduos de
levedura que se acumulam no gargalo, a adição o licor de expedição, enfim, todo
o processo. Degustamos seus crémants
numa simpática sala de degustação que eles mantem no subsolo, e compramos duas
garrafas de sua cuvée “d’Or”, um
belíssimo rosé adicionado de
floquinhos de ouro, engarrafado numa bela bouteille
transparente com um rótulo metálico dourado, sensacional.
Pupitres |
O belo rosé em autólise |
A cuvée "d'Or" |
Assim terminamos nosso dia, eu diria que para mim
foi um dia mais que especial, que ficará para sempre guardado na minha memória.
De todos os passeios eno-turísticos que fizemos, sem dúvida este foi o mais
interessante – pela ajuda especializada da Carol, que nos atendeu com muito
carinho, pela beleza da região, que vai ficar pra sempre gravada na retina e
pelo mágico mundo que é o mundo do vinho e das pessoas que nele trabalham.
Oxalá um dia possamos retornar e viver novamente
estas experiências.
Au revoir! Santé!
(contato@vidaboaviagens.com.br)
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