Salut, mes amis!
Hoje vou escrever alguma coisa sobre minha viagem à Carcassonne - já tem algum tempo, mas tem coisas que nem ele consegue apagar da nossa retina. Embora eu sempre faça um diarinho de viagem, afinal nunca se sabe ;)
Carcassonne é uma cidade muito antiga - no ano 800a.C. a colina em que se situa já era um importante vilarejo de intercâmbio comercial; esta colina foi fortificada pelos romanos em 100a.C., dominada pelos sarracenos no séc. VIII e passou ao controle do conde de Trencavel no início do séc. XI. Na Idade Média foi configurada como ainda hoje a encontramos sobre a colina, sendo que mais recentemente a cidade nova se desenvolveu em seu entorno. Se situa no Languedoc, região sudoeste da França, uma região de cultura muito rica, devido às muitas influências que sofreu ao longo dos séculos. Região de fronteira com a Espanha, que chegou a ser ocupada pelos árabes quando os mouros dominavam a península ibérica; durante a Idade Média, foi o chamado "país cátaro", sendo o catarismo uma religião cristã que foi depois julgada herética pelo papa e brutalmente aniquilada em meados do séc. XIII, deixando contudo muitos rastros. Sempre foi muito independente em relação ao reinado central da França, o que incentivou e fez floresecer esta pluralidade cultural.
Enfim, saímos
de Barcelona com destino à Carcassonne em um dia 19 de julho - pleno verão - sob um sol
escaldante mas com um clima bastante úmido do litoral catalão e seguimos rumo ao clima
seco do interior do continente. É
impressionante como a paisagem muda em poucos quilômetros de viagem! Até o lado
espanhol da fronteira a vista é bastante árida, uma terra clara e bem seca, com
uma vegetação parecida com a do cerrado: árvores baixas, retorcidas e
espinhentas. Conforme se vai aproximando da França, aos pés dos Pirineus, os
riachos tornam-se mais numerosos e a vegetação mais verde. Passamos por
Perpignan e por uma região de lagos próximos à costa, com sentido à Narbonne,
onde deixamos a A9 e tomamos a A61 com sentido à Carcassonne.
Chegamos
na cidade pela parte velha, “La Cité Medievale”, que é a porção turística da cidade, ainda
protegida pelas velhas muralhas (
les remparts), dentro das quais se situa o Hôtel de la Cité. A
primeira e surpreendente visão que tivemos da Cité a parir da estrada foi dos
torreões das muralhas. Que visão magnífica!
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Passeio de charrete pelas remparts |
Deixamos
o carro num estacionamento externo à
cité, onde não entram carros particulares,
apenas os
couriers do hotel. Fizemos o
check-in e tivemos outra agradável
surpresa: o quarto também era magnífico. Após um breve “reconhecimento” do
hotel, saímos para dar uma volta pela cidadela, pois já estávamos no meio da tarde e a
Cathédrale de Saint-Nazaire, nossa programação para o dia, fecha às 18h00,
embora o dia avance fácil até às 21h00 nesta época do ano. Visitamos a bela catedral
construída em estilo gótico, em seguida o Château Comtal e demos uma volta completa no
interior das muralhas, confirmando nossa primeira impressão de que a
cité era
mesmo linda.
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Belos vitrais na catedral |
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O Château Comtal |
Voltamos
ao hotel, pegamos uma piscina para nos refrescar do calor de cerca de 40
oC
e descansamos um pouco antes do jantar.
Saímos para jantar no “Les Terrasses”, na Place Marcou, e embora
estivesse calor, comi
cassoulet acompanhado de um Château des Colombes 2008, um
corbières quase preto, muito tânico e estruturado, depois de uma entradinha “levinha” de salada forrada
com
foie gras e
foie de vollailes – justo eu, que não gostava de miúdos de
aves; não até ir para a França, sabem como é... "preconceitos" que a gente
conserva desde a infância.
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Vistas do Hôtel de la Cité, com a catedral e o château ao fundo |
Quanto à vinicultura, esta região é conhecida pela sua "flexibilidade", sendo a viticultura influenciada pelo estilo bordalês na sua porção mais ocidental, com influência atlântica, enquanto que nas regiões sul e leste recebe mais influência mediterrânea, tendendo então para as características da região do vale do Rhône. Na região se encontram solos argilosos, calcários, xisto, marga e arenito; o relevo acidentado proporciona todo nível de insolação. Lá se planta desde cabernet sauvignon, cabernet franc, merlot e malbec (côt), características de Bordeaux, até grenache, mourvèdre, syrah, cinsault e carignan. Existem também diversas variedades locais de uvas brancas, mas se planta também cepas internacionais mais difundidas, como a chardonnay, muscat e viognier. Os vinhos doces são importantes na região - os brancos baseados em muscat e o Banyuls, considerado o melhor vinho doce natural francês, feito de grenache noir. No início do século, era a maior região produtora em volume de vinho barato, normalmente misturado com vinhos de outras regiões e países para ganhar cor e ser vendido ao proletariado francês. Nas últimas décadas, vem recebendo um maior cuidado para se limpar desta imagem, recebendo renomados produtores de outras regiões e até estrangeiros que buscam uma maior qualidade nesta região em que se plantando, qualquer uva dá. A grande quantidade de vinhos regionais (
vin de pays) e apelações tabém é um atrativo para produtores que buscam a experimentação, o que está dando ótimos resultados, visto o Mas de Daumas Gassac, próximo à Montpellier, considerando um
grand cru do Languedoc.
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Videiras no pé das muralhas |
Voltando à nossa estada, no dia
seguinte descemos cedo para o nosso
petit déjéuner no Chez Saskia, a
brasserie
do hotel. Se tratando de um café da manhã francês - digo isso porque na França os cafés nos hotéis são sempre mais "parcimoniosos" - estava ótimo, com uma boa
variedade de pães,
croissant,
charcuterie,
pain au chocolat, geleias, frutas e iogurtes.
Saímos então rumo à Rennes-le-Château, um famoso destino esotérico e turístico
nas montanhas do Languedoc, mas aí já é assunto para outro
post. Voltamos para
Carcassonne à tardinha, e enquanto a patroa foi descansar com a filhota, eu dei
uma volta pelo lado externo das muralhas, entre o intenso movimento de turistas
como eu. Voltando ao hotel, relaxamos um pouco na beira da piscina, tomando uma
tacinha do famoso
crémant de Limoux – para muitos, o primeiro vinho borbulhante
já inventado, feito com a uva mauzac, exclusividade da região, chardonnay ou chenin blanc.
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Vistas das muralhas, ruelas e a Porta de Narbonne |
Fomos
jantar na Place du Plo, no “Le Balthazar” e eu comi outro
cassoulet (este
levava cordeiro ao invés de pato) e desta vez eu pedi um vinho regional
rosé encorpadão
para acompanhar. As meninas comeram
crèpes. Fui novamente dar uma volta para
tirar umas fotas noturnas até a Pont Vieux, uma bela ponte de pedra – a vista da
cité no topo
da colina é de tirar o fôlego. Voltamos
para dormir felizes com a certeza de termos passado dias memoráveis neste
lugar de uma energia muito especial, e certos que no dia seguinte nossa viagem
recomeçaria – agora rumo a Bordeaux.
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La Cité vista do pé da colina |
Desta estada, tiramos a conclusão que Carcassonne é mesmo um lugar inesquecível. Escrevendo este
post me volta à mente esta linda e surpreendente vista da
cité - afinal quem diria que no século XXI ainda a encontraríamos tão perfeitamente conservada, tal como um castelo das princesas (a
Cité foi restaurada pelo arquiteto Eugène Violet-le-Duc, em meados do século XIX). Eu costumo brincar que nasci na época errada, pois adoro a época medieval, e pouco antes da viagem estava absorto em leituras de romances históricos sobre o graal, templários e cátaros, inclusive acabara de ler "Labirinto" de Kate Moss, uma história que se passa naquela região e isso reforçou minha paixão à primeira vista. Me lembro dos cheiros de ervas e lavanda, dos sabonetes e cosméticos de óleo de oliva, da culinária regional, dos vinhos, da simpatia e da receptividade de seus habitantes... Enfim, é um lugar para o qual voltaríamos com certeza - e espero que um dia retornemos mesmo.
Santé, mes amis! Et à bientôt!
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