Bonjour, mes amis!
Hoje vou contar um pouco da nossa visita à Reims no verão passado. Era início de setembro, e acordamos cedo com dificuldade numa sexta-feira para fazer o trajeto Paris-Reims - no dia anterior tínhamos visitado a Eurodisney e retornado para o hotel, no 8ème de Paris, depois da meia-noite. Já era o décimo dia da nossa viagem à Europa, então já estávamos com um pouco de cansaço acumulado. Pedimos o petit déjéuner no quarto e nos aprontávamos enquanto comíamos, pois a visita estava marcada para as 10 horas.
Conseguimos sair do hotel às 8 e a viagem pela A4 correu sem percalços. Um fato pitoresco ocorreu quando saímos da autoroute para pegar a estrada para o centreville - perguntei para a moça do pedágio se aquele era o caminho certo para Reims e ela me respondeu categórica: "Noooooon", para ir a Reims eu deveria sair da estrada na próxima saída, ela me falou. Ah, vá! Esses europeus e seu pensamento cartesiano às vezes nos surpreendem...
Enfim, chegamos na sede da Pommery correndo, estávamos em cima da hora para a visita guiada em francês e sentimos então os efeitos da pontualidade europeia. O casal que estava comprando os tíquetes à nossa frente na fila falava uma língua estranha, acho que do leste, o pessoal não compreendia e acabou atrasando uns 2 minutos. Foi o suficiente para o guia descer com o grupo e nos deixar para trás. Tivemos que aguardar a guia em língua inglesa, às 10h30. Tudo bem, dá para entender, mas não é a mesma coisa...
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Entrada da cave |
Mme. Christine iniciou a visita explicando um pouco da história desta importante casa de Champagne. Fundada em 1858, era chamada anteriormente Pommery-Greno, em função das duas famílias proprietárias. Após o falecimento do marido, em 1860, Madame Louise Pommery assumiu o controle total da empresa, que passou a administrar de uma maneira inovadora, investindo principalmente no mercado de exportação, voltado aos britânicos. Nesta época, inclusive, ela encomendou uma grande reforma na maison, com influências arquitetônicas inglesas, e criou o champagne brut, diminuindo a dosagem de açúcar no liqueur de expédition, tudo para agradar aos fregueses. Mecenas do meio artístico, mandou decorar as paredes calcárias das caves com esculturas e promovia saraus nas instalações da empresa, costume que perdura até hoje. Mais recentemente a empresa passou para o domínio da Vranken, multinacional de bebidas fundada em 1976.
A maison está instalada sobre 18km de caves escavadas no período galo-romano (séc. XII, aproximadamente), de onde se retirava material de construção, há 30m de profundidade média e temperatura constante de 10oC. Nestas caves repousam cerca de 20 milhões de garrafas de champagne. Possui atualmente 55ha de vinhedos, produz cerca de 3 milhões de garrafas e recebe a visita de mais de 60.000 ao ano.
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Letreiro antigo afixado na entrada da cave |
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"Festa de Baco", esculpida diretamente na rocha da parede da cave |
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"Silene" |
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"O Champagne", o tempo em que se bebia o vinho nas antigas copas baixas e largas |
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"Louise Pommery" |
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Mme. Christine... |
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...e a tradicional explicação sobre autólise, remuage e engarrafamento do champagne. |
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Os tesouros da maison, guardados a sete chaves: entre as garrafas, o primeiro champagne brut elaborado |
Depois da visita à cave, degustamos 4 champagnes produzidos pela Pommery: o brut, um millésime '04, de extraordinária fineza, o rosé, que é elaborado com 40% de pinot noir e 60% de chardonnay, este um pouco mais estruturado, e um "extra-dry", com um pouco mais de açúcar na dosage, contudo bastante fino e equilibrado. Na lojinha, comprei uns badulaques como souvenirs, entre eles uma garrafinha de POP numa embalagem dourada que a patroa achou "uma graça" para decorar nosso barzinho em casa.
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Este barrilzinho aí foi montado e entalhado por ocasião do 1.o aniversário da Independência Americana. Embarcado para Washington cheio de vinho, foi devolvido para a Pommery depois de encerrados os festejos dos quais participou |
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Entalhe do barril: "Europa" oferece uma taça de vinho à "América", sob os olhares da "Liberdade" e do índio americano, tudo sobre as paisagens e os vinhedos de Reims. |
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Madame Pommery |
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A bela arquitetura da Maison Pommery |
Depois de terminada a visita, fomos almoçar no Café du Palais, tradicional
brasserie localizada no
centreville de Reims, bem em frente ao Palais do Tau e da praça da catedral. Comemos um excepcional
tagliatele au foie gras et morilles à la crème, e só não sei se fui feliz na escolha do vinho, um chassagne-montrachet... A baixinha comeu um prato infantil de peixe que veio todo decorado como uma carinha de palhaço, ela adorou! A sobremesa também estava ótima, era uma espécie de
sorbet com queijo branco e iogurte, com frutas vermelhas e calda quente... divina!
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O Café du Palais |
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Le dessert |
À tarde fomos visitar a Cathédrale de Notre-Dame de Reims, igreja no estilo gótico construída em meados do séc. XIII e tida como uma das mais representativas catedrais deste perído da França, ao lado de Chartres, Paris, Rouen e Amiens (ainda me faltam estas 2 últimas...). A vista imponente da catedral ao se chegar a praça é inesquecível, assim como são marcantes alguns sinais deixados pelos conflitos por quais passou esta igreja.
Na 2.a guerra mundial, a catedral foi o último ponto de resistência das tropas francesas quando da invasão alemã na cidade, trocando de mãos por diversas vezes durante uma semana até a total subjugação pela werhmacht. Marcas de tiro ainda pontuam as fachadas da catedral como cicratizes, pois os champenois demonstram com orgulho sua importância na história militar francesa. A região foi importante foco de resistência nas guerras franco-prussianas e na 1.a grande guerra, quando a Batalha do Marne devastou a região e seus habitantes.
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Em 1962 o Geneal de Gaulle recebeu o chanceler alemão na catedral de Reims para reafirmar a paz entre as nações, gravada na calçada defronte à catedral |
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Vista da fachada principal - portal leste - a partir da praça |
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Detalhe do portal - Jesus coroa Notre-Dame na ascenção aos céus |
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Como em toda catedral gótica, as gárgulas estão por toda a parte para expurgar o mal |
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Estudantes "flanam" à sombra da fachada norte |
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Cartaz explicativo afixado na parede da catedral |
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Interior da belíssima catedral |
Depois da visita à Cathédrale, fomos dar uma voltinha pelo centreville, afinal a patroa já tinha visto uma filial da Galleries Lafayette... menos mal, fora de Paris os preços são melhores mesmo... chamou a atenção (como em Bordeaux) o tram, um tipo de bondinho moderníssimo que cruza as ruas do centro, sendo uma ótima alternativa de transporte urbano.
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Centreville de Reims |
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Place Henri Deneux, belo exemplo da arquitetura champenoise |
Mais uma vez ficamos encantados com esta belíssima região francesa. A aura de glamour que envolve o champagne no imaginário de todo o mundo parece ter se espalhado por todo o lugar, não apenas às famosas casas mundialmente conhecidas. Toda pequena propriedade, comércio ou local público é extremamente bem cuidado e bem arrumado, as cidades são incrivelmente limpas e lindas. O povo é acolhedor, educado e elegante, embora seja simples e receptivo ao turista. Da última vez em que estivemos na região era inverno, e mesmo a paisagem quase inóspita devido aos vinhedos em hibernação e à neblina constante encobria estas características da região: um povo que recebe bem, come bem, bebe maravilhosamente bem... do mais aristocrata ao mais simples vigneron, que também é um especialista em champagne, sem dúvida. Em suma, o champenois vive muito bem, e deixa isso transparecer nas vilas em que habita.
Saímos daí ao final do dia revigorados para continuar nossa viagem em Paris.
Au revoir, mes amis! À la prochaine!