Salut, les amis!
A postagem abaixo é fruto da minha coluna do mês de março na revista eletrônica
Opinias, onde frequentemente eu dou uns pitacos sobre vinho. Em colunas anteriores eu havia deixado algumas dicas de vinhos ideais para o verão - em sua grande maioria vinhos brancos, por
tratarem-se de vinhos muitas vezes mais leves e ácidos - portanto, mais
refrescantes.
Pela campanha: abaixo o preconceito explícito muitas vezes naquela frase: “só
bebo tintos!", decidi continuar tratando desse assunto estudando e conhecendo um pouco mais das
principais cepas brancas mais utilizadas ao redor do mundo:
Alvarinho

Manjadíssima uva branca dos Vinhos
Verdes portugueses (nos quais podem
entrar também no corte a loureiro, a arinto e a trajadura), a alvarinho
encontra sua maior expressão mesmo na Península Ibérica, na região fronteirça
entre Portugal e Espanha. Galícia, Rias Baixas e Vinho Verde são suas
principais denominações. Gera vinhos leves, frescos, elegantes e bem
equilibrados, frequentemente com baixo
teor alcoólico, com muito boa acidez, com aromas de damascos, frutas de
carne branca (pêssego, pêra), cítricos e flores brancas. O Vinho Verde (o
adjetivo é relativo à maturação, e não à cor do vinho...) é engarrafado muito
cedo e muitas vezes libera um restinho da fermentação na própria garrafa,
resultando em pequenas bolhas de gás, quase imperceptíveis a olho nu, mas que
proporcionam uma leve sensação de efervescência na boca (a chamada “agulha”). No Dão alguns vinhateiros estão
experimentando maturar o alvarinho em barricas de carvalho. Um ótimo exemplar
português é o Soalheiro, produzido sem passar por madeira, na região do
Melgaço. Um enólogo português – Miguel Ângelo Almeida – está conduzindo grandes
projetos na Miolo, entre estes um belo alvarinho proveniente da região da
Campanha Gaúcha.
Chardonnay (lê-se chardonê ou
chardoné, dependendo do sotaque
francês...)

Certamente a cepa branca mais
difundida da face da Terra, esta uva dá origem a uma ampla gama de estilos de
vinhos: de vinhos leves, cítricos e minerais, que não passam por barrica de
carvalho (em geral de climas mais frios) a vinhos gordos, amanteigados, com
aromas de frutas tropicais (manga, abacaxi), creme e baunilha, este último proveniente
da criação em barrica de carvalho. Talvez
o ponto em comum sejam as nuances de frutas brancas como a maçã e a pêra. O
supra-sumo do chardonnay é a região da Borgonha, na França, onde na sua região
central (a Côte d’Or) gera vinhos desse segundo estilo, embora mais finos e
elegantes que os provenientes de outros locais mais quentes (Chile, Austrália e
Califórnia, por exemplo); ao norte
da Côte d’Or, na região de Chablis, resulta em vinhos minerais e cítricos
devido ao solo calcário da região. Esta uva também é muito importante na
produção do champagne, onde pode
entrar em assemblage com a pinot
meunier e a pinot noir, entre outras cepas regionais, ou mesmo gerar o champagne “blanc de blancs”, ou seja, só de uvas brancas. Opções de boa
relação qualidade/preço são os vinhos do sul da Borgonha, das regiões do Mâconnais
e da Côte Chalonnaise, bem como os bons produtores chilenos e argentinos, ainda
mais acessíveis aqui no Brasil. Particularmente, sempre que pude beberiquei um
Meursault, village da Borgonha que
produz um vinho rico, amanteigado e com aromas de mel, amêndoas e nozes, ou um
bom Chablis. Na América do Sul gosto do estilo mais seco e mineral da De
Martino no Chile e os argentinos mais untuosos e amadeirados de Catena Zapata e
Luigi Bosca.
Chenin Blanc (chenã blã)

Também originária da França, da
região central do vale do Loire, onde dá à vida vinhos com ricos aromas de mel,
maçã, goiaba branca e marmelo, além da característica mineral dos solos de tuffeau (uma espécie de calcário macio,
micáceo e arenoso) ao longo do Loire, principalmente em torno de Vouvray,
Savennières e Saumur, principais vilarejos produtores dessa uva, de onde provem
vinhos espumantes, secos, meio-doces ou doces - estes últimos quando as uvas são atacadas pela “podridão nobre”,
um fungo chamado botrytis cinerea que desidrata os bagos concentrando o açúcar
na fruta – tem aromas de pêssego e abacaxi em calda, açúcar mascavo e marmelo. Bonnezeaux
e Quarts de Chaume são essencialmente denominações de vinhos doces.
Sinceramente prefiro os vinhos secos da região – são mais finos e elegantes.
Savennières produz grandíssimos vinhos brancos de guarda, entre eles o Coulée
de Serrant, tido como um dos melhores do mundo; Clos de La Bergerie é o segundo
vi nho” de Nicolas Joly, proprietário do Coulée de Serrant e um dos baluartes
da vinicultura biodinâmica – é mais acessível, mas ainda assim muito caro... Outro
país que planta muita chenin é a África do Sul, onde os vinhos não expressam
tanta complexidade, bem como na Austrália, Nova Zelândia, Califórnia ou
Argentina. Encontramos no Brasil boas e acessíveis opções de tradicionais
produtores do Loire, principalmente Vouvrays, que podem ser espumantes, secos e
meio-secos.
Gewürztraminer (guevurstraminer)
Talvez seja a uva branca mais
aromática, liberando insinuantes aromas de lichia e pétalas de rosa. Resulta em
um vinho fragrante, untuoso e redondo na boca, que acompanha muito bem comidas
mais condimentadas. Cai como uma luva com moqueca ou comida de acento tailandês
ou chinês. É comum na região da fronteira da França com a Alemanha, na região
da Alsácia, que já pertenceu aos dois países (normalmente os vilarejos dali tem
um nome germânico até hoje). Também é plantada na Nova Zelândia e na Itália,
onde é conhecida por Traminer e não gera vinhos tão luxuriantes como os
alsacianos. Já provei um bom – e barato – vinho braisleiro desta cepa, da Casa
Valduga. Dependendo da safra, a acidez pode cair e, na minha opinião, o vinho se torna um pouco enjoativo. Tiro
certo são os alsacianos.
Moscato
É assim conhecida na Itália, onde
resulta no aromático e refrescante moscato d’Asti, na região noroeste. No
Brasil, chamada de moscatel, também produz ótimos e descontraídos espumantes
meio-doces. Uma das poucas – senão a única – cepa branca que tem o perfume de
uva in natura, o que gerou inclusive
o adjetivo muscaté, que os franceses
utilizam para caracterizar um vinho com aroma de uvas. Conhecida com muscat,
produz ricos vinhos doces com aromas de laranja cristalizada na Australia, no
sul da França (muscat de Beaumes-de-Venise, Frontignan e Rivesaltes) e na
Espanha. Muscats secos são mais raros, produzidos principalmente na Alsácia, na
Austrália e em Portugal. Moscatéis espumantes brasileiros são baratos, leves e
refrescantes, os mais secos servem muito bem como aperitivo na beira da piscina
e os mais doces acompanham sobremesas com cremes e frutas, como também vão
muito bem com panetone. Já provei doces fortificados muito bons provenientes da
Espanha (o Torres Floralis é muito rico, denso, com gosto de doce de laranja) e
da França (o muscat de Baumes-de-Venise de Paul Jaboulet Ainé é um estilo de
vinho mais equilibrado, ácido e leve que o espanhol).

Riesling (ríslin)
Não é todo enófilo principiante que
se apaixona pela riesling à primeira vista – no princípio, o relacionamento é
complicado... Às vezes, o bom vinho de riesling exala fortes aromas químicos de
querosene, petróleo, fluido de isqueiro... pode parecer asqueroso, mas quando
estes aromas se associam com equilíbrio aos aromas frutados de limão siciliano,
lima, maçã, pêssegos e mel, ah! mes amis...
é uma sensação inebriante! É a uva dos maiores vinhos alemães e aqui cabe um
parêntese: a Alemanha produz grandíssimos vinhos, mas ficou marcada com a baixa
qualidade dos liebfraumilch que
exportava como louca nas décadas passadas – OK, muitos de nós começou bebendo
vinho com as famigeradas garrafas azuis, então agora podemos provar bons
rieslings! Na região do Mosela eles são mais leves e menos aromáticos que no
Rheingau. Difícil mesmo é compreender os rótulos dos vinhos alemães, com suas
inúmeras categorias de vinho. Os nomes costumam expressar o grau de maturação
das uvas na colheita, o que nem sempre se traduz no vinho... A grosso modo, Trockenberrenauslese
é o mais doce, produto da podridão nobre. Beerenauslese é doce, Auslese o
médio, Spätlese e Kabinnet são os menos maduros. Quanto à doçura, Halbtrocken é
meio seco e trocken, seco. A Alsácia e a Áustria produzem ótimos riesling,
também encontrados na Nova Zelândia, África do Sul e Estados Unidos. É difícil
encontrar um bom riesling, e barato. Da Alemanha já experimentei muito bons de
Dr.Bürklin Wolf, Domdechant Werner, Kloster Heilsbruck e Pfaffmann; da Alsácia,
Marcel Deiss, Hugel, Dopff & Fils
e Bott Geil são boas opções.

Sauvignon Blanc (sovinhon blã)
Esta uva é cultivada em várias
regiões da Europa e do Novo Mundo. Produz um estilo de vinho fresco, pungente,
com aromas de vegetais frescos, cítricos e tropicais. Na França, na porção mais
ao leste do vale do Loire, origina vinhos minerais, “crocantes” e com aromas de
maçã verde e aspargos em denominações como Sancerre, Pouilly-Fumé e
Menetou-Salon. Em Bordeaux ela demonstra também um aroma de grama cortada,
quando entra nos cortes dos vinhos brancos com a sémillon, resultando em vinhos
mais austeros, muitas vezes criados em carvalho. No Chile (San Antonio e Casablanca), bem como em outros terroirs mais quentes, como na Espanha
(Rueda, Navarra), atinge aromas mais frutados, cítricos. No país andino
estão fazendo boas experiências com carvalho. Na Nova Zelândia o apetitoso
sauvignon de Marlborough tem aromas de groselha verde, aspargos e maracujá. Boas dicas são os vinhos de Pascal
Jolivet e Joseph Mellot no Loire, vinhos bordaleses da região de
Entre-Deux-Mers (alguns, como o Château
Chasse Blanc, o Château La Mothe du Barry e o Château de Mirambeau tem alta
relação qualidade/preço), o neo-zelandês Vicar’s Choice e os chilenos da
Casa Marin e o Amayna Barrel Fermented, para quem faz questão de um toquezinho
amadeirado.

Sémillon (semion)
Esta uva produz vinhos secos na
Australia e na França, na região de Bordeaux, mas é nessa última que ela
encontra sua maior expressão nos vinhos doces da região de Sauternes. Nesse
lugar, às margens do Gironde, o vinhedo encontrou um clima úmido e nebuloso
ideal para a propagação do Botrytis
cinerea, a “podridão nobre” que concentra seu teor de açúcar. Colhidos à
mão, muitas vezes um a um, esses bagos são vinificados com muito cuidado para
produzir um néctar dourado, doce,
com aromas de frutas cristalizadas e mel. Os Sauternes top são caríssimos, mas
os châteaux Grand Cru costumam produzir também um segundo vinho, de muito boa
qualidade e preço melhor, mas encontramos opções menos caras e com ótima qualidade no vilarejo vizinho de Barsac.
Viognier (vionhiê)
Cepa que origina vinhos com
aromas inebriantes de damasco, marmelo e mel, muito perfumados, untuosos mas
muito bem equilibrados, principalmente
no sul da França, ao norte do vale do Rhône. Quando estive por ali provei
ótimos Condrieu, região que cultiva exclusivamente viognier. A Australia, California,
Argentina e Brasil também produzem a viognier, mas não com a mesma expressão
que a francesa. No Brasil já provei e indico viogniers franceses de Paul
Jaboulet Ainé e Guigal, argentinos
de Catena e Luigi Bosca, além do nacional Miolo RAR e Miolo Reserva.